"Receba essa dor, pois algum dia ela lhe será útil" Ovídio.
Não sabemos sofrer, aprendemos a ignorar o sofrimento, e isso tem nos tornado vazios.
Esse texto ficou longo, talvez seja melhor ler pelo computador ou pelo aplicativo.
Sugestão de música para ler: you’re writing love letters in an ancient library during autumn [ dark academia playlist ] Playlist disponível no YT.
Aqui eu não quero justificar o sofrimento como algo “bom” ou “necessário” ou dar uma conotação de desenvolvimento ou evolução ao sofrimento, ou, por fim, diminuir a dor de que sofre para falar que a pessoa vai sair transformada daquela situação de sofrimento. Não é tão simples assim.
Essa não é a questão desse texto. A questão desse texto é: O sofrimento é inerente ao ser humano. (E acredito que a todo ser vivo).
“Em um momento ou outro da vida, a maioria das pessoas experimenta um período de tristeza, sofrimento, perda, frustração ou fracasso, tão perturbador e duradouro que pode ser chamado de noite escura da alma. Se seu principal interesse na vida é a saúde, você pode tentar vencer rapidamente a escuridão. Mas, se estiver procurando significado, caráter e substância pessoal, talvez descubra que a noite escura tem grandes dádivas a lhe dar”. Thomas Moore, em: Noites escuras da alma.
Onde, como e quando vai acontecer o sofrimento, é um mistério, mas certamente ele acontecerá. Todos nós nos frustramos, temos uma decepção amorosa, uma questão financeira, perdemos alguém que amamos. Todo ser humano passa por questões assim. Mas o importante aqui é: A forma como encaramos o sofrimento é o que vai nos levar para uma vida rasa e sem significado interior, uma vida mergulhada no sofrer ou uma vida com significado
Todo sofrimento em algum momento nos serve para alguma coisa porque é no sofrimento, também, que encontramos o significado de sermos quem somos e o motivo pelo qual nos tornamos quem somos, muitos mistérios da nossa existência se encontram no escuro, é por isso que momentos de sofrimento nos visitam em nossa vida.
“a vida acontece num equilíbrio entre a alegria e a dor” - Carl Gustav Jung.
O sofrimento nos guia não somente para o autoconhecimento mas para experimentarmos sentimentos como empatia e compaixão e isso é algo que somente uma pessoa que se permitiu ser guiada pela sua dor consegue sentir pelo outro.
Os momentos escuros da nossa alma, como chama Thomas Moore, existem não para nós fugirmos desesperadamente deles, mas existem para nos comunicar o que estamos fazendo com o tempo que nos é dado aqui, quem estamos nos tornando e o que realmente precisamos fazer, como precisamos viver e quem realmente somos, com nossas qualidades e defeitos. Porém, quando nos refugiamos em entretenimento, não descobrimos as preciosidades que encarar o sofrimento pode nos trazer.
Nós não sabemos sofrer. Ninguém nos ensinou como lidar com o sofrimento, mas percebe que nos ensinaram a lidar com a felicidade? Quando estamos felizes fazemos diversas coisas como passear ao ar livre, comer uma comida gostosa, celebrar o momento com amigos, nos presentear. Mas quando estamos tristes ninguém nos permitiu sentir e compreender nossa tristeza. Isso porque as pessoas e a sociedade ao redor costumam ter o hábito de falar frases como: “vai passar", “engole o choro”, “isso não é nada, vamos sair e você já esquece” ou outras frases que queiram dizer a mesma coisa: “não sinta esse sentimento, ele é desconfortável e as pessoas não conseguem suportar essa dor junto com você, vamos nos distrair até esquecer”.
Pobre tristeza, nunca é acolhida. Quando nos sentimos tristes, quando estamos sofrendo uma perda, uma frustração, decepção, é necessário parar por um momento e sentir aquela dor, e ao invés de buscar opinião de pessoas ao nosso redor, precisamos refletir sobre o que está acontecendo e nos perguntar: “o que isso significa em minha vida?”, “o que esse acontecimento quer me dizer?”. “Re-fletir” significa pensar mais uma vez sobre a mesma coisa. Esse processo de reflexão interior nos levará para caminhos obscuros onde vamos encontrar respostas sobre nossas reflexões.
Caso busquemos opinião de amigos essas opiniões vão contaminar nosso processo de sofrimento com as próprias questões deles, e assim, o processo de autoconhecimento é minado.
Além de pensar novamente sobre a mesma coisa, escrever é uma boa atividade para quem sofre. Mas por onde começar? Aqui é importante pensar que o pensamento simbólico veio muito antes do pensamento racional, e nós deixamos de dar valor para ele, mas o pensamento simbólico pode nos ajudar nos momentos de sofrimento, com certeza mais do que o pensamento racional.
Então aqui, no campo do sofrimento a escrita é simbólica, podemos dar um cheiro, uma cor ou um gosto para nosso sofrer. Podemos descrever o local onde parece que estamos quando sofremos, um pântano, uma caverna, uma gruta, ou também podemos dizer que esse sofrimento dói como a agulha quando tiramos sangue, uma dor ardente, ou uma dor de quebrar um osso, para quem já experimentou essa dor. Além disso podemos falar das pessoas que se envolveram no nosso processo de sofrimento como se fossem personagens (já que afinal, são personagens da nossa psique, pois todas as pessoas que nos relacionamos no mundo aqui fora conversam de forma direta ou indireta com algo do nosso mundo interno) e assim descrever àquela pessoa, o que ela representa para você, se ela representa o que seu pai, mãe ou outro familiar um dia foram para você, ou se ela representa tudo o que você já viveu de mais feliz e de mais triste ao mesmo tempo (…).
Existem muitas formas de escrever e simbolizar nosso sofrimento, e assim, ampliar o sofrer e deixar ele nos levar para onde precisa nos levar, trazendo assim respostas sobre nossa vida, história e personalidade.
Buscar atividades artísticas como pintura abstrata, se permitindo usar as tintas espontaneamente, ou também trazendo a escrita novamente, agora tentando escrever a sua história de vida.
Todas essas atividades são atividades introspectivas, que nos conectam com a nossa dor e nos fazem trazer forma a ela. Mas podemos também buscar atividades extrovertidas para lidar com o sofrimento como, por exemplo, grupos de estudos, onde as pessoas compartilham conhecimento de um mesmo tema de interesse, ou grupos vivenciais, onde as pessoas compartilham experiências semelhantes e refletem sobre aquela experiência, normalmente com vivências artísticas.
E por fim, o silêncio. O silêncio é necessário para lidar com o sofrimento. A vida agitada não permite que consigamos ouvir o que nosso interior quer nos dizer.
O sofrimento em algum momento pode servir para alguma coisa, como por exemplo, descobrir um pouco mais quem somos e qual o objetivo de estarmos aqui nesse momento. Assim, alguns sofrimentos que passamos nos podem ser úteis quando temos uma decisão para tomar, uma situação difícil na vida para enfrentar, ou para estar com alguém que está sofrendo.
Na minha experiência pessoal os meus sofrimentos me levaram a buscar nos estudos respostas para essas dores e assim me encontrei na psicologia. Sou psicóloga por formação, mas foram meus sofrimentos que me tornaram realmente a psicóloga que eu sou, foram eles, também, que me ajudaram a descobrir quem eu realmente sou e como trazer essa essência para o mundo. Se tem algo que eu repetiria novamente na vida, seria a forma como eu vivi meus sofrimentos. Eu me arrependeria de não tê-los vivido.
Deixo aqui neste final um livro sobre depressão. Estou lendo ele neste momento e pelo pouco que li, é um livro que humaniza esse estado de alma tão natural do ser humano, a melancolia, ou depressão. E para falarmos desse tema a melhor forma de falar é metaforicamente, como fiz o autor do livro.
Para quem se interessar:
Obrigada para quem chegou até aqui. <3
Eu quero começar ter como hobbie na escrita, não sou boa com palavras e nem boa em expressar e cim essa leitura acredito que vai me ajudar me expressar numa forma muito criativa. Obrigada!!!!